segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Notas de conjuntura alagoana

Notas de Conjuntura
ALAGOAS

Apertem os cintos: o piloto é tucano e o caminho é pelas pedras

O governo estadual, ao contrário do federal, não tem papas na língua. Não é questão de ser pior ou melhor, é apenas uma maneira diferente de operar. É papo reto e a política neoliberal come solta, sem blindagem social. Quem não lembra que FHC chegou a dizer que o PSDB faria de Alagoas o seu laboratório?

Evidente que após desgastes em greves e enfrentamentos, arranjos políticos foram feitos, como o recente “pacto pela educação” (ensino médio e fundamental) firmado com o sindicato da categoria e mediado diretamente pelo MEC, na presença de seu chefe Fernando Haddad. Por outro lado a UNEAL arrasta em greve e a UNCISAL também já expôs suas deficiências e sucateamento.

O sinal de alerta para os movimentos têm ficado hoje por conta da discussão das Fundações Estatais de Direito Privado, a atingir os hospitais locais e pô-los na lógica do mercado e da precarização do trabalho. Facilitado por medida do governo central de Lula, a coisa vai vir com força por nossas bandas e para enfrentar será preciso superar a timidez e dispersão das primeiras mobilizações a respeito.

Destaque também para o programa de Parcerias Público-Privadas. Este tem sido visto com a atenção necessária para aquilo que tem sido a alma das chamadas políticas neoliberais, tanto que seu Conselho Gestor passou a ser presidido pelo vice-governador, José Wanderley (PMDB). O programa das PPP’s é focado nas áreas de infra-estrutura, ciência/tecnologia e agronegócio. O anúncio de privatização nas estradas, com a cobrança de pedágios, corre por aqui.

A “linha dura” no modelo de gestão em Alagoas guarda relação com a intensificação nas aproximações com o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Este último atinge a parte de “desenvolvimento econômico” do Estado e o primeiro cuida mais da parte de “modelo de gestão pública”. Recordamos que ainda em 2007 foi notícia as primeiras reuniões entre o Tesouro da União, o Banco Mundial e o Governo de Alagoas, para fechar acordo a respeito da reestruturação da divida pública interna de Alagoas. Naquela ocasião a dívida era avaliada em 6 bilhões, mas hoje, já atinge 7 bilhões.

A dívida interna, que não deveria ser pública, visto que foi principalmente contraída para salvar ou incrementar interesses privados (especialmente dos usineiros), é um ponto importante e que deixa Alagoas de mãos atadas, ainda mais dependente de financiamento federal. Para além da discussão de “ajuste fiscal” e de “honrar” com os compromissos financeiros, que em essência não tem significado outra coisa que mais oportunidades para os ricos e mais aperto para os pobres, está em jogo a racionalização e profissionalização de um determinado modelo de gestão pública.

Se pensarmos que Alagoas sempre foi marcada como ícone dos mandos e desmandos, a primeira vista isso poderia ser sinal de modernização e, por conseqüência, de melhores momentos. No entanto, é sabido que o tempo corre, o mundo se transforma, a sociedade se diversifica e nisso as estruturas tem se complexificado e naturalmente exigido o aperfeiçoamento de mecanismos de poder e controle.


As taturanas um ano após o escândalo

É notório que a Operação Taturana abalou velhos caciques da política alagoana. Nas últimas eleições municipais, figuras como Cícero Ferro, Antônio Albuquerque e João Beltrão sofreram derrotas, que se não significam um processo de ascensão e organização do povo em luta, tem algum significado simbólico e até mesmo moral. É claro que eles continuam com força, os Beltrão, perderam em três municípios, porém, ainda estão em outros cinco.

Apesar dos pesares, muita água ainda vai passar, visto que das taturanas desencadeou outros processos na justiça – atingindo quase que as mesmas pessoas – como os de crimes de mando, que sempre marcaram a história da política alagoana. Mas se muita água ainda vai rolar, onde ela vai desaguar e o que vai trazer não tem indicado possibilitar maior ganho para uma perspectiva de acúmulo para forças sociais. A questão tem sido abafada na própria institucionalidade, que vai desde o também indiciamento do deputado do PT, Paulão, para a mais recente recusa da bancada do PT em assinar o pedido de cassação de Antônio Albuquerque.

No terreno da luta, como já tínhamos avaliado, os movimentos sociais e entidades deixaram passar uma boa oportunidade de ganhar força ideológica e mobilizar variados setores, ainda que nos pareça ser uma pauta mais permeável a indignação de setores médios, em geral motivados por falso moralismo, do que propriamente aqueles que sofrem as maiores conseqüências e amarras da política de mando.


A crise financeira em Alagoas – entre anedotas, cinismo e efeitos

Ao se falar de crise, não poderia deixar de entrar em cena os profissionais do “discurso da crise”, que historicamente por este meio, sempre teve garantida a legitimidade para o seu saque aos cofres públicos. Os usineiros e grandes fornecedores de cana caíram com o discurso afinado. O usineiro e deputado estadual Fernando Toledo, chegou a dizer, textualmente, que era preciso “fazer um mutirão (na Assembléia do Estado) em prol do setor canavieiro” e que “pessoas que eram consideradas ricas, hoje encontram dificuldade até para comprar comida”. A afirmação dispensa maiores comentários.

O curioso é que, segundo especialistas, já em outubro de 2008 as usinas superaram todo o montante de vendas externas do ano de 2007. Se a maior parte do cultivo da cana-de-açúcar é realizado pela própria usina, não é difícil dizer que se os pequenos fornecedores de cana possam possuir uma agenda mais concreta de reivindicações por crédito, o “socorro” e as articulações ficam, no momento, muito mais para oportunismo dos que não admitem nem pensar em possibilidades de qualquer tipo de aperto, pra já ou pra depois, do que por uma situação real.

É claro que considerando que a atividade é voltada para o mercado externo, o reflexo da crise no setor é certo e é preciso estarmos atentos aos desdobramentos. Um fato que já ocorre nos últimos anos é a migração dos grupos empresarias alagoanos para o sudeste e centro-oeste do país e a presença cada vez maior do capital estrangeiro no setor sucroalcooleiro, e nesta última questão, a discussão em torno do Etanol tende a aumentar ainda mais essa presença.

Cabe nota, que estes que “pedem o penico” são os mesmos que foram notificados por desrespeito aos direitos de trabalhadores do corte de cana. O ano de 2008, que também viu a insatisfação de trabalhadores do corte de cana com algumas greves e bloqueio de estradas, teve a notificação por parte de força tarefa da DRT em 13 das 15 usinas inspecionadas.

Voltando ao “colapso financeiro”, dos que “sofrem” de imediato, o destaque inicial vai para o Grupo João Lyra (que tem três usinas em Alagoas e duas em Minas Gerais) e há quem aposte que o mesmo deve desfazer-se de patrimônio para saldar as dívidas, que só com o banco inglês Calyon é da ordem de 70 milhões de dólares. No fim do novembro o grupo deu entrada a pedido de “recuperação judicial” (concordata). Mas a relação disso, parece está mais diretamente ligado com o dinheiro jorrado em sucessivas campanhas eleitorais, suas e de outros, que o fez perder a “gordura” de dinheiro vivo. Ao fim das contas, a concordata que também vem sendo pedida por outros grupos empresarias do setor pelo Brasil afora, não deixa de ser uma maneira de possibilitar a normatização das contas de usineiros com os prazos e benesses que são acostumados.

Em Maceió, tivemos um fato curioso, que mais parece anedota, mas trata-se de uma manobra política pegando o vácuo aberto. Mal haviam começado os alarmes dos mercados financeiros e o prefeito de Maceió, o recém reeleito Cícero Almeida, se “antecipou” e anunciou seu “pacote” de contenção de gastos administrativos para amenizar possíveis efeitos da crise. Além de manter seu estilo, numa atitude provavelmente assoviada ou acertada por marqueteiros e consultores políticos – visando a popularidade que como demonstraram o processo eleitoral já é alta – tem a serventia de preparar um terreno para abafar os visíveis e latentes rombos nas finanças da prefeitura.

Para efeitos políticos e sociais, deve-se tomar em conta que o desenrolar desta crise pode significar um corte em gastos do PAC e programas sociais. Embora Lula bem saiba o valor político-ideológico destes na blindagem de seu governo e que tenha afirmado não haver cortes destes, não deixou de admitir ao menos uma manutenção dos valores atuais. Isso, por si só, não deixa de ser um corte, pois não acompanha inflação e outros fenômenos da economia. A importância disto para Alagoas está na medida de sua forte dependência de verba federal.

Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares, dezembro de 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Entrevista com anarquista grego

OS ANARQUISTAS E A REVOLTA SOCIAL NA GRÉCIA


Alexandros Grigoropoulos, jovem anarquista morto pelas forças policiais.

Como nenhuma mídia do poder pode ocultar a Grécia vive desde o dia 05 de dezembro um cenário de revolta popular marcante na história recente da Europa. Dias de fúria social contra os aparelhos repressivos, a classe capitalista e um governo cambaleante pela crise que assusta todo o mundo e joga a conta no emprego e nos direitos sociais dos trabalhadores, os imigrantes e a juventude. Publicamos aqui uma entrevista produzida pela página web espanhola Kaos en la Red com um companheiro anarquista grego que nos faz um quadro geral das lutas e da intervenção libertária nesse processo popular.

Kaos en la Red entrevista a Yannis Androulidakis, Secretario Internacional do Sindicato grego, ESE (anarcosindicalista)



1. Em que outras cidades além de Atenas, se efetuaram manifestações de protesto?

As revoltas se acendem por todas partes na Grécia. Incluso nas pequenas cidades, em todos os departamentos do país houveram manifestações, senão é só ver os motins contra a polícia. Eu cito Tessalônica, as 3 grandes cidades de Creta (Héraklion, Hania, Rézymno), Yannena, Agrinio, Patras e Komotini (duas cidades onde tiveram operações comuns entre a polícia e os grupos neonazis), Larissa (onde se acusou um garoto de 14 anos pela lei antiterrorista), Trikala, Kerkyra, Lesvos etc


2. Onde tem sido mais grandes as mobilizações?

Em Atenas há numerosas "Manis" (manifestações N.T.) todos os dias convocadas por diversos coletivos, ou inclusive chamados por Internet ou SMS. Os alunos de segundo grau cercam todo dia as estações da polícia em toda a cidade. No centro da cidade há três universidades ocupadas por militantes (Escola Politécnica, Escola de Economia e Escola de Direito) Poderiamos dizer que estas três ocupações compõem a coordenação do movimento enquanto se refere aos adultos. Pelo que se refere aos estudantes de ensino médio, se podem observar formas de organização completamente novas, horizontais e formidáveis. Atualmente há ao redor de uns 800 institutos ocupados na Grécia.


3. Se pode falar de levantamento popular ou se exagera esta afirmação?

Não somente se pode falar de um levantamento popular, se trata da maior rebelião na Grécia desde, ao menos, finais de 1965, provavelmente uma das maiores rebeliões no mundo ocidental desde o Maio de 68 em Paris. Tem que ser destacado que não se trata de uma rebelião de "militantes", ainda que o movimento de esquerda, de extrema-esquerda e sobre tudo dos anarquistas são bastante fortes no país, não se trata tampouco de um movimento dos marginalizados (como em Los Angeles em 1992 ou Paris em 2005), tampouco uma rebelião da "juventude". Gente de todas as idades e de diferentes camadas sociais tem saído às ruas a se enfrentar com a polícia. À ponto do “black block” (muito forte na Grécia), pareça uma força moderada nas ruas. É a cólera social de muitos anos, possivelmente destes 34 anos de república grega, que saiu às ruas.


4. Qual o papel desempenhado pelos estudantes na origem do protesto?

É difícil distinguir os distintos grupos sociais. Os estudantes de 14 a 16 anos são talves os mais visíveis, estão todos os dias nas ruas, fazem 2 ou 3 manifestações, atacam todos dias vários postos policiais. Às vezes vamos acompanhá-los por temor, para não deixar crianças diante de gente armada, ainda que se trate de uma nova politização que às vezes não comparte os mesmos temores sobre a violência popular. O que costumamos chamar na Grécia “ignorância do perigo”. Os estudantes, por sua parte, tentam vincular esta rebelião com suas próprias pretensões e serão a próxima “bandeira” do movimento, provavelmente.


5. - Os jovens do sexo masculino são o núcleo dos protestos? Qual o peso que tem os diferentes componentes do anticapitalismo nestas (anarquistas, comunistas, etc)?

Quem quer que diga que "dirige" este movimento é um mentiroso. Se bem tenha sido acendida pelos anarquistas de Atenas, esta rebelião, de súbito, foi esponteamente seguida por todas as identidades políticas. As idéias e os coletivos anticapitalistas foram bem reforçados durante estes dias. Poderíamos distinguir as três ocupações de Atenas, a Escola Politécnica está nas mãos dos anarquistas “puristas” (o que não quer dizer grande coisa atualmente), a Escola de Economia é um lugar em que o anarquismo-luta de classes está muito presente (os comitês de trabalhadores foram ao seio desta ocupação para ir aos lugares de trabalho e discutir com os operários) e a Escola de Direito agrupa a parte maior da extrema esquerda. Resta acrescentar que no que concerne à esquerda parlamentária, o Partido Comunista (sempre stalinista) denuncia a “rebeliãodice” dos “provocadores”, ao mesmo tempo que partido “Synapismos” (Esquerda Européia), participa da manifestação sem tomar parte em nenhum processo do movimento.


6- Como avalias o seguimento da recente greve geral?

A única central oficial do país, GSEE, é históricamente culpada por sua ausência neste movimento. Esta ausência da maior rebelião destes 50 anos assinala a derrota e a falha do sindicalismo estatal e burocrático. A greve do 10 de dezembro foi proclamada antes do assassinato do companheiro Alexandros, para reivindicar medidas contra a crise. Então o GSEE tem que decidir (depois de um pedido do primeiro ministro) se anula a manifestação de protesto para não participar do motim! Este comportamento se opõe aos interesses populares e operários, avança à colaboração de classe contra a luta de classes. Denunciamos esta política de traição do GSEE e reiteramos a necessidade urgente de uma nova confederação sindical na Grécia. Acrescento que a pesar do GSEE, várias dezenas de milhares se manifestaram em Atenas e em outros lugares, sob o chamamento dos coletivos operários, as ocupações e certas uniões. A participação na greve foi bastante grande também, visto que uma grande parte do processo produtivo estava já cortada no país.


7-Qual o papel que jogam os meios de comunicação gregos? A nível internacional, os meios de comunicação falam de “vandalismo”.

Os meios de comunicação desempenham papel de “véu escuro”. Várias vezes publicaram mentiras sobre “vandalismos” que nunca aconteceram (biblioteca nacional queimada, academia destroçada, possivelmente amanhã poderão falar de demolição do Pantheon) ou se difundem rumores que há um pedestre morto por uma pedra.

No dia seguinte dizem: “éé, sim, isto nunca aconteceu antes, tu vê... É que com a bagunça de ontem, tivemos estas informações”. A realidade é (posso assegurar isto pessoalmente como jornalista), que de tais “informações” escapam todos os dias da polícia e depois os meios de comunicação as reproduzem sem o menor controle. Outras vezes, os meios de comunicação falam que anarquistas na França, na Espanha e na Itália já estão a caminho para ajudar os anarquistas gregos. Mas que outra coisa se pode esperar dos meios de comunicação oficiais, já que seus proprietários são os mesmos capitalistas que exigiram a política econômica que motivou esta rebelião? Acrescento que as agressões da polícia durante estes dias (disparos, torturas, etc.) estão sempre presentes nas páginas web alternativas como a athens.indimedya.org, indy.gr e os meios de comunicação só o reproduzem quando já estão conhecidas. Passou o mesmo com o assassinato do companheiro Alexandos.


8- É normal este comportamento da polícia grega?

O Comissário do Conselho da Europa T. Hamarberg (suponho que não seja anarquista...) denunciou a violência excessiva e permanente da polícia grega, na medida em que a polícia goza de impunidade diante dos tribunais. Por último, se propôs o desarme da polícia grega por razões de segurança. Desde o assassinato do camarada Alexandros tivemos 400 feridos, pelos disparos “às cegas” que se realizam todos os dias, dezenas de manifestantes feridos pela tortura da polícia.


9- Como podemos analisar o assassinato deste jovem de 15 anos? É talvez o começo de uma aumento da repressão que se aproxima?

O companheiro Alexandros não foi a primeira vítima da violência policial na Grécia. Desde a transição política (1974) temos por volta de 100 mortos por disparos da polícia grega. Os ativistas, imigrantes, ciganos, jovens, descapacitados, inclusive crianças! Faz três anos, a polícia começou em Exarheia um assalto a este bairro de Atenas com uma longa história militante. Mas não se pode esquecer que a repressão estatal é cada vez maior com a repressão econômica, a pobreza, etc. Em uma Europa que requer 70 horas de trabalho semanal aos trabalhadores, a repressão é o único “argumento” dos empregadores e dos estados. Por tanto, estamos em um período de grande repressão em todo o mundo.


10- O sindicato que você representa pede a demissão do governo grego?

Em primeiro lugar, temos que dizer que o sindicato SEA Atenas não tem processos iniciados foram do que está sucedendo. Estamos todos em assembléias e suspendemos toda a “vida orgânica”. Não somos uma parte que vai separadamente a organizar uma revolta. Somos um pedaço da revolta, nossa vida é o ativismo nas ocupações e as assembléias. Nossas demandas são as das Assembléias. Sobre a tua pergunta, não acreditamos que uma mudança de governo pode mudar nossas vidas. Necessitamos uma mudança de desistema econômico. A assembléia da ocupação da Escola Econômica, chamou ao desarme da polícia e a supressão das forças especiais.

Depois de tudo, se o governo cair será por causa de uma revolta que demonstrará que as pessoas têm a capacidade para ganhar o poder.


11- Como se põe em ação o movimento anarquista em suas diversas correntas nas lutas e protesto?

Os anarquistas foram os primeiros que acenderam a revolta, na noite do assassintado de Alexandros. Eles participaram em todas as ações de rua e asseguraram que a ira e a violência das pessoas se movesse em direção aos bancos, às multinacionais e às comissarías de polícia e não aos pequenos comércios e automóveis. Não devemos esquecer que a polícia secreta fez esforços par converter os distúrbios em uma “violência cega”. Mas não tiveram êxito.

Por outra parte, são os anarquistas que operam em todas as ocupações. Pessoalmente sou parte de um núcleo que exige que os trabalhadores se envolvam abertamente nas ocupações, como é o caso visível dos ativistas da ocupação da Escola de Econômia..


12- Como afeta a Grécia a crise econômica?

Inclusive antes da crise, a situação na Grécia era bastante difícil. De maneira que, a partir de 1996 os políticos falam da “poderosa Grécia”, referindo-se à capital do negócio dos Balcãns, quando dos jogos olímpicos. O salário mínimo não excedia de 650 euros, enquanto existia uma grande precariedade entre os jovens, especialmente. A maioria das pessoas e das famílias têm grandes dívidas devido à investida dos bancos na economia grega. Depois do Crack, os patrões começaram a despedir “para reduzir os custos”, aumentou a incerteza, mas também a ira das pessoasl existe uma grande precariedade antes de la crisis, la situación en Grecia era bastante difícil.


13- Você acredita que estes fatos também estão vinculados com a crise capitalista internacional?

Como disse, sim. A crise aumentou a ansiedade e a ira das pessoas. Também reforça o sentir de que não podemos confiar nos amor deste mundo e que nossa emancipação chegará através de nós mesmos.


14- O que você espera destas mobilizações?

As mobilizações sempre dão resultados inesperados. A realidade já superou muitos planos e projetos das organizações e ativistas. Mas por outro lado, este movimento não se fez, até o momento, demandas concretas. Pessoalmente, o que espero é sair deste novo movimento com estruturas de trabalhadores, os sindicais, sociais e populares mais organizadas e mais concretas na luta. Mas, tendo em conta o que está acontecendo na Grécia, também espero que a realidade seguirá sendo superior a nossas expectativas. Já vivemos aqui e podemos fazê-lo de novo. Não se pode esquecer que há uma inteligência que supera a inteligência de todos os gênios. E é a inteligência coletiva do mundo, é a inteligência das pessoas saindo Às ruas para restabelecer a vida.



Fonte: FAG

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

[Boletim] discutindo classe, território e luta

ONDE HÁ OPRESSÃO, QUE SE ORGANIZE A RESISTÊNCIA
Uma breve discussão sobre classe, território e luta


A organização dos setores explorados da sociedade enquanto classe trabalhadora é a forma clássica que se constituiu de se enfrentar a elite capitalista no século XIX. Eixo fundamental para se colocar a frente todas as contradições de classe proveniente da relação contraditória entre capital e trabalho.

Com o desenvolvimento do capitalismo e a industrialização de alguns países, também se desenvolve a classe operária, que a partir do seu trabalho gera toda a riqueza expropriada pelos patrões. Aos trabalhadores resta uma pequena parte da riqueza produzida, suficiente para garantir, muito mal, a sua reprodução enquanto força de trabalho. Sobre esse ponto fundamenta-se toda a lógica do sistema capitalista, que não se resume a isso, mas as demais questões se relacionam de forma direta ou indireta com esse fato.

No século XIX, os trabalhadores possuíam jornadas de trabalhos muito duras, que chegava a passar das 15h por dia. Até parte do século XX, viviam nas antigas vilas operárias. Compartilhavam, portanto, um convívio não só no trabalho, mas no bairro, o que de certa forma favorecia a identificação enquanto classe e dava um formato a reivindicações comuns que não se restringiam apenas a questão salarial e de jornada de trabalho.

Durante todo o século XX, as relações de trabalho mudam e o capital se adapta às mudanças ocorridas, sempre arrumando novos meios de explorar a classe trabalhadora e garantir a sua reprodução.

Com o tempo, não apenas os operários fabris passam a buscar uma organização e a discutir a suas lutas mais imediatas em relação a um projeto de transformação social. Outras categorias de trabalhadores e até mesmos outros agrupamentos sociais, como estudantes, movimentos de bairro, movimento ambiental, feminista, etc., passam a abraçar a causa que originalmente fora levantada pelos operários.

A identificação do povo enquanto setor explorado que precisa se organizar não é exclusivo dos operários fabris. Veja a importância das periferias das grandes cidades, que na maioria das vezes estão à margem do que a humanidade produziu de mais avançado nos diversos aspectos da vida. Não é a clássica exploração da mais valia, mas a manutenção desses setores nessa situação é de fundamental importância para reprodução do capital. Bem como os setores de serviços, pois sem a exploração dos trabalhadores desses setores não há uma reprodução eficiente do capital.

Existem vários aspectos da sociedade que não estão vinculados diretamente com a exploração econômica (cultura, meio ambiente, gênero, etc) que também são importantes na luta por uma nova sociedade. Porém, nenhum desses aspectos explica sozinho a origem das contradições entre as classes sociais. Na verdade, eles tendem a se relacionar de maneira direta ou indireta com as questões econômicas. O fator econômico é a base de entendimento para a lógica da sociedade em que vivemos, mas ele sozinho também é insuficiente para dar conta, pois a questão da transformação social não é somente um problema de economia.

Os operários fabris não são a maioria de nossa sociedade e cada vez mais têm seu trabalho precarizado, como no caso das terceirizações, por exemplo. Sua luta é central, a mais estratégica para colocar em cheque o modo de produção capitalista. Mas de maneira alguma pode ser feita à revelia dos demais setores explorados de nossa sociedade. Uma nova sociedade é para todos e o seu projeto de transformação tem que ser impulsionado e construído pelos setores explorados de nossa sociedade.

Em particular, ressaltamos a importância da população das periferias de se organizarem. Até mesmo os operários que antigamente se agrupavam nas vilas operárias, hoje, em sua maior parte, estão pulverizados pelas periferias. Há uma identificação, em potencial, muito forte dos moradores desses lugares de se identificarem como um grupo que compõe a vida social das cidades e que são a maioria explorada. Juntos não podem paralisar a produção de riqueza material, mas podem lutar por ampliações de direitos, pela melhoria mais imediata de suas vidas.

Se essa luta é travada baseada nos princípios de solidariedade de classe, autogestão, ação direta e independente de políticos e patrões sua importância transcende a essas reivindicações mais imediatas e colabora no desenvolvimento de uma ideologia libertadora que não encontrará outra saída se não almejar a emancipação humana. Esse tipo de luta pode, inclusive, contaminar outros setores que a partir da luta no seu local de moradia podem levar esses ideais para outros ambientes.

BOLETIM CAZP - DEZ/08

[Boletim] A equação do peleguismo em Maceió

CAMINHOS E DESCAMINHOS:
a equação do peleguismo em Maceió


A Câmera de Vereadores de Maceió terá em 2009 dois pretensos “mandatos populares”. Ao menos é assim que, por vezes, se tem propagado a eleição de Heloisa Helena e Ricardo Barbosa, ambos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

A votação de HH foi sem dúvida arrebatadora, a maior da história de Maceió, quase o dobro da do segundo lugar. Isso garantiu de quebra, por conta do coeficiente eleitoral, levar Ricardo Barbosa com apenas 450 votos.

Da parte de HH foram feitas criticas públicas após o resultado, a respeito do critério de coeficiente eleitoral que garantiu ao PSOL mais um assento, mesmo tendo seu segundo uma baixíssima votação. A serventia é dupla. Pelo lado pessoal (de Heloísa), mantém a sua áurea de “coerente” frente à “opinião pública”. E pelo lado partidário, no fim das contas o que é será. Ou seja, missão cumprida: elege-se um e leva outro.

A expressiva votação de HH tem relação com determinada credibilidade que a mesma construiu em seus oito anos de senado. É a política que guarda em si uma áurea de “ética” e de que, em cargo legislativo, é uma boa pedida para brigar com os “corruptos” lá dentro. Seria esse o ideário que permeou boa parte daqueles que depositaram sua confiança na principal figura pública do PSOL, que dizia em sua campanha recomeçar “humildemente” como vereadora.

É claro que não se tratava de humildade, e sim de estratégia política do PSOL. Essa, é a inserção no jogo político institucional ocupando cargos parlamentares que viram a fonte de energia e marco estruturador de toda a sua vida partidária. Nada novo. A tática, pois, foi pôr HH como “humilde” vereadora na intenção de garantir, no mínimo, um. Com dois, melhor não poderia ter sido.

Até 2010, pois para os partidos das eleições burguesas contam-se os anos de dois em dois, muitas águas vão rolar, jogo de forças internas e vaidades e projetos pessoais também. Para quem não enxerga um palmo além de uma eleição e seus acordos tácitos e formais, para quem não vê nada além do que gira ao seu redor e, sobretudo, para quem não pensa em estratégia de ruptura em longo prazo a trajetória não pode ser outra senão a que toda a história já nos ensinou, inclusive, a recente do PT.

Os anarquistas de matriz especifista têm colocado que da velha fórmula de pragmatismo político, mais participação eleitoral e construção de partido de massa, não pode ter outro resultado que não reformismo e traição de classe. Nada além disso tem sido gerado historicamente por esta equação política e para os trabalhadores não tem ficado outra coisa senão seu desarme político-ideológico desde as suas bases.

Para nós, anarquistas do CAZP, a militância não é meio de vida nem forma de ascensão social. Ao contrário disso, a política eleitoral não oferece outra coisa. Malatesta não se enganou quando dizia que a medida que os socialistas se fortalecem nas lutas parlamentares, é a medida em que eles deixam de lado as idéias socialistas de radical transformação social.

Ora, vejamos sob que quadro político-parlamentar irá atuar os dois candidatos do PSOL. A composição da Câmera de Vereadores, além dos de famílias mais tradicionais, têm o que foi eleito mesmo estando preso, os que se garantem por seus projetos sociais auto-promocionais e financiados com dinheiro público, têm pastor, têm as que por bem ou por mal se valeram da condição de portadoras de necessidades especiais e, como já de praxe, têm a representação oriunda de programas policiais.

Não é para fazer caricatura ou folclore, muito embora seja difícil se esquivar disso com esse quadro. Mas, perguntamos: o que os “socialistas parlamentares” poderão fazer? O reeleito Cícero Almeida (PP), potencial candidato ao governo do Estado, está com quase toda a bancada. Mas de onde veio o sucesso eleitoral do PSOL? Base social organizada? Busca de novas alternativas? Nada disso, apenas um fenômeno de personificação “ética” e, pior, sem lastro na luta popular.

Quem quiser que acredite em “mandato popular” e oportunidades para os de baixo. Não somos profetas, nem tão poucos ilusionistas. Somos anarquistas e buscamos fincar raízes pela luta popular de longo prazo. A gente se encontra na rua.

BOLETIM CAZP - DEZ/08