quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

[Boletim] discutindo classe, território e luta

ONDE HÁ OPRESSÃO, QUE SE ORGANIZE A RESISTÊNCIA
Uma breve discussão sobre classe, território e luta


A organização dos setores explorados da sociedade enquanto classe trabalhadora é a forma clássica que se constituiu de se enfrentar a elite capitalista no século XIX. Eixo fundamental para se colocar a frente todas as contradições de classe proveniente da relação contraditória entre capital e trabalho.

Com o desenvolvimento do capitalismo e a industrialização de alguns países, também se desenvolve a classe operária, que a partir do seu trabalho gera toda a riqueza expropriada pelos patrões. Aos trabalhadores resta uma pequena parte da riqueza produzida, suficiente para garantir, muito mal, a sua reprodução enquanto força de trabalho. Sobre esse ponto fundamenta-se toda a lógica do sistema capitalista, que não se resume a isso, mas as demais questões se relacionam de forma direta ou indireta com esse fato.

No século XIX, os trabalhadores possuíam jornadas de trabalhos muito duras, que chegava a passar das 15h por dia. Até parte do século XX, viviam nas antigas vilas operárias. Compartilhavam, portanto, um convívio não só no trabalho, mas no bairro, o que de certa forma favorecia a identificação enquanto classe e dava um formato a reivindicações comuns que não se restringiam apenas a questão salarial e de jornada de trabalho.

Durante todo o século XX, as relações de trabalho mudam e o capital se adapta às mudanças ocorridas, sempre arrumando novos meios de explorar a classe trabalhadora e garantir a sua reprodução.

Com o tempo, não apenas os operários fabris passam a buscar uma organização e a discutir a suas lutas mais imediatas em relação a um projeto de transformação social. Outras categorias de trabalhadores e até mesmos outros agrupamentos sociais, como estudantes, movimentos de bairro, movimento ambiental, feminista, etc., passam a abraçar a causa que originalmente fora levantada pelos operários.

A identificação do povo enquanto setor explorado que precisa se organizar não é exclusivo dos operários fabris. Veja a importância das periferias das grandes cidades, que na maioria das vezes estão à margem do que a humanidade produziu de mais avançado nos diversos aspectos da vida. Não é a clássica exploração da mais valia, mas a manutenção desses setores nessa situação é de fundamental importância para reprodução do capital. Bem como os setores de serviços, pois sem a exploração dos trabalhadores desses setores não há uma reprodução eficiente do capital.

Existem vários aspectos da sociedade que não estão vinculados diretamente com a exploração econômica (cultura, meio ambiente, gênero, etc) que também são importantes na luta por uma nova sociedade. Porém, nenhum desses aspectos explica sozinho a origem das contradições entre as classes sociais. Na verdade, eles tendem a se relacionar de maneira direta ou indireta com as questões econômicas. O fator econômico é a base de entendimento para a lógica da sociedade em que vivemos, mas ele sozinho também é insuficiente para dar conta, pois a questão da transformação social não é somente um problema de economia.

Os operários fabris não são a maioria de nossa sociedade e cada vez mais têm seu trabalho precarizado, como no caso das terceirizações, por exemplo. Sua luta é central, a mais estratégica para colocar em cheque o modo de produção capitalista. Mas de maneira alguma pode ser feita à revelia dos demais setores explorados de nossa sociedade. Uma nova sociedade é para todos e o seu projeto de transformação tem que ser impulsionado e construído pelos setores explorados de nossa sociedade.

Em particular, ressaltamos a importância da população das periferias de se organizarem. Até mesmo os operários que antigamente se agrupavam nas vilas operárias, hoje, em sua maior parte, estão pulverizados pelas periferias. Há uma identificação, em potencial, muito forte dos moradores desses lugares de se identificarem como um grupo que compõe a vida social das cidades e que são a maioria explorada. Juntos não podem paralisar a produção de riqueza material, mas podem lutar por ampliações de direitos, pela melhoria mais imediata de suas vidas.

Se essa luta é travada baseada nos princípios de solidariedade de classe, autogestão, ação direta e independente de políticos e patrões sua importância transcende a essas reivindicações mais imediatas e colabora no desenvolvimento de uma ideologia libertadora que não encontrará outra saída se não almejar a emancipação humana. Esse tipo de luta pode, inclusive, contaminar outros setores que a partir da luta no seu local de moradia podem levar esses ideais para outros ambientes.

BOLETIM CAZP - DEZ/08

Um comentário:

Anônimo disse...

O plataformismo é uma farsa bolchevique para destruir o anarquismo!

http://www.angelfire.com/sk2/libertad/l32.pdf

27 de Março de 2009 23:26