terça-feira, 29 de abril de 2008

[Boletim] 1º de maio: dia de luta e de luto!

1º DE MAIO: DIA DE LUTA E DE LUTO!


A memória é nossa arma – não esqueceremos, nem perdoaremos

O 1° de maio de 1886 entrou para história como símbolo de luta da classe trabalhadora. Uma história pouco divulgada hoje em dia. É comemorado como um feriado em quase todo mundo, mais conhecido como dia do trabalho e não dia do trabalhador, deturpando o seu significado histórico de luta.

No final do século XIX, a classe operária norte americana tinha pouca coisa que comemorar, com uma jornada diária de trabalho extenuante que variava de 12 a 17 horas, sem o mínimo de amparo legal. Além disso, mulheres grávidas e crianças desempenhavam o mesmo tipo de jornada. Os salários eram muito baixos, mal davam para reproduzir a força de trabalho.

Por outro lado, os Estados Unidos era uma nação em pleno desenvolvimento econômico e já despontava entre as mais industrializadas do mundo, ao lado de paises como França, Alemanha e Inglaterra. Tinha um constante fluxo de imigrantes europeus que aumentava a demanda por emprego.

Cansados com a difícil vida que levavam, os operários norte-americanos decidiram seguir o exemplo do que já era feito na Europa e lutar por melhores condições de vida, como primeiro degrau na luta pela emancipação humana.

Elegeram a luta pela jornada de 8 horas de trabalho, que já havia sido levantada como bandeira na antiga Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) em meados da década de 60 desse mesmo século. Organizado em torno da Federação de Sindicatos dos Estados Unidos e Canadá (que daria origem a AFL – Federação Americana do Trabalho) decidiram, no ano de 1884, se mobilizar para essa luta por todo o país, tendo como meta para suas reivindicações o dia 1° de maio de 1886.

Embora a luta tenha sido desencadeada em todo o território daquele país, uma cidade ganha particular importância: Chicago. Uma das mais industrializadas cidades do EUA e principal centro de agitação política, a classe trabalhadora tinha uma influência ideológica predominante anarquista. Durante todo o ano de 1886, ocorreram greves e agitação. O clima de acirramento entre burguesia e operariado era alto, com a imprensa e as forças policiais sendo financiadas e incitadas a uma selvageria violenta por partes dos patrões.

No dia 1° maio de 1886, uma multidão de cerca de 90 mil trabalhadores desfilaram pelas ruas de Chicago iniciando uma greve, de caráter pacífico. Nesse dia não houve confrontos, apesar de os jornais burgueses do dia incentivarem atos violentos.

A greve continuou no dia 3 (dia 2 de maio era um domingo) e durante uma tentativa de protesto em frente a uma fábrica onde haviam operários ainda em trabalho, a polícia foi acionada e chegou atirando matando cerca de 6 a 7 pessoas e ferindo dezenas delas.

No dia seguinte foi puxado um protesto contra a repressão ocorrida, mais uma vez com caráter pacífico e, sem mais nem menos, uma força de cerca de 150 policiais começou a dispersar a multidão em protesto de forma violenta.

Foi nesse momento que uma bomba explodiu matando sete policiais e ferindo cerca de setenta. Prontamente a polícia respondeu abrindo fogo contra a população e o número de mortes até hoje é uma incógnita.

Fala-se de cerca de 100 pessoas mortas pelos policiais e outras tantas feridas e presas. E nunca se teve certeza de quem jogou a bomba, se algum manifestante ou policiais infiltrados para incriminar os operários.

Esses fatos foram seguidos de uma forte repressão à classe operária e especialmente a alguns operários que eram referência, sendo a maioria deles militantes anarquistas e que estavam à frente da organização da luta pela jornada de 8 horas na cidade.

Foram levados a julgamento: Augusto Spies, Sam Fielden, Oscar Need, Adolpf Fischer, Michel Schawb, Louis Lingg e Georg Engel. No dia do jugamento, Albert Parsons, que havia escapado da prisão, se apresentou ao juiz em solidariedade aos companheiros detidos. Schawb e Fielden foram condenados a prisão perpétua. Neeb, a 15 anos de prisão e os demais foram condenados a forca. Lingg suicidou-se um dia antes da forca.

No dia do jugamento, Albert Parsons, que havia escapado da prisão, se apresentou ao juiz em solidariedade aos companheiros detidos. Schawb e Fielden foram condenados a prisão perpétua. Neeb, a 15 anos de prisão e os demais foram condenados a forca. Lingg suicidou-se um dia antes da forca. Apenas 3 dos condenados estavam no ato onde ocorreu a explosão e nenhum deles tiveram envolvimento direto com o incidente. No dia 11 de novembro de 1887, foram enforcados.

A partir de 1890, no mesmo 1° maio, vários paises do mundo desencadearam luta pela redução da jornada para 8 horas diárias com os mesmos slogans dos operários americanos: 8h de descanso, 8h de trabalho e 8h de lazer e estudo, em lembrança aos mártires de Chicago. Depois de muita pressão popular, os 3 operários que ainda continuavam presos foram libertados em 1893 e o processo ocorrido, anulado.


O primeiro de maio no Brasil

No Brasil, o primeiro de maio é lembrado pela primeira vez 1894 pelos operários de Santos. Ganha caráter massificado e classista com a criação da Confederação Operária Brasileira em 1906. Naquela época, já existiam ações do Estado e dos patrões com finalidade de disfarçar o caráter de luta dessa data, com a promoção de festejos e confraternização entre operários e patrões.

Para piorar, na Europa amplos setores provenientes do operariado fundavam partidos reformistas que disputavam as eleições burguesas e perdiam a radicalidade das ações e do discurso. Assim, começam, aos poucos, a transformar a data numa festa e não num dia de luta. Isso tinha reflexos no Brasil, com os sindicalistas denominados de amarelos, os quais promoviam atitudes similares.

Apesar disso, vivemos no início do século XX um momento de grande atuação do sindicalismo revolucionário no Brasil, representado principalmente pela COB e as federações operárias espalhadas pelo país, entre elas a Federação Operária Alagoana, cujos delegados chegaram a secretariar um congresso operário da COB.

O sindicalismo revolucionário que tinha forte influência anarquista sempre teve como horizonte a mudança radical de nossa sociedade, cujas lutas como a jornada de 8h eram meio de desenvolver a consciência classista necessária ao possível processo revolucionário que abriria a luta por nossa emancipação.

Era comum haver greves de solidariedades às lutas de outras categorias cujas reivindicações não atingiam diretamente aos operários em solidariedade. Havia os teatros populares, as escolas e universidades geridas pela própria classe trabalhadora, independente do Estado e que forneciam instrução necessária ao desenvolvimento intelectual dos trabalhadores enquanto classe. Tinha-se menos corporativismo e mais esperança de um futuro justo.


Em tempos de burocracia: reafirmar a organização pela base

Hoje em dia, a situação é completamente diferente, com boa parte dos sindicatos burocratizados, mais dependentes em relação ao Estado e agregando menos pessoas da base que representa. O sindicalismo que era desenvolvido nas bases dos trabalhadores passou a ser um sindicalismo de dirigentes, muitas vezes com acordos de cúpula.

Evidentemente que não podemos usar os mesmos métodos utilizados há um século. A realidade é outra, as condições objetivas e subjetivas modificaram-se, mas se quisermos que os sindicatos tenham a combatividade existente no passado, temos que radicalizar na sua construção pela base.

Disputar os “corações e mentes” dos nossos companheiros de trabalho é muito mais válido que disputar direção de sindicato ou criar central sindical na base do acordão, sem que isso tenha significado na vida dos milhões de trabalhadores brasileiros, sem que isso seja conseqüência do crescimento das mobilizações e não uma causa forçada, como se a solução de nossos problemas se resolvesse com a mudança de pessoas que representam a classe e não na própria classe em si.

Boletim CAZP
Alagoas, abril 2008

cazpalmares@hotmail.com
www.cazp-al.blogspot.com

sábado, 26 de abril de 2008

A direita com cara de "esquerda" e sua forma de corromper e cooptar

A direita com cara de “esquerda” e sua forma de corromper e cooptar

Nas semanas anteriores ao 1º de maio de 1980, uma mercadoria começou a escassear na região do ABC paulista. Cansados de sofrer a repressão da polícia militar sob o comando do então governador Paulo Salim Maluf, os peões e trabalhadores resolveram reagir. No ato de Vila Sônia, São Paulo, a classe trabalhadora foi com tudo. O estoque de arma de corte – facas, canivetes e peixeiras – esgotou em São Bernardo do Campo e cidades vizinhas. Desde o 1º de maio de 1968 que não havia tamanha disposição de luta. Na época, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Luiz Inácio da Silva, era o referente destes operários dispostos a tudo.

O ambiente político entre 1978 e 1980 era propício para o avanço da esquerda. A última reforma política, chamada de reorganização partidária, entoou o canto da sereia do sistema capitalista e tragou as expectativas de luta de classes e auto-organização dos oprimidos. Chefe da Casa Civil do governo Figueiredo (1979-1985), o general bruxo da ditadura Golbery do Couto e Silva, articulou de dentro do regime a possibilidade de uma oposição fora do MDB. A “esquerda” seria representada no panorama eleitoral por um novo partido, surgido dos movimentos sociais da segunda metade da década de ’70. Dessa oportunidade, surge o Partido dos Trabalhadores (PT).

A ditadura se abria pela pressão popular e por divergências dentro da caserna. Os militares haviam derrotado a esquerda armada. Agora, tinham de dar fim ao regime de modo que o sistema não fosse abalado. Nesse esforço, surge uma palavra de ordem: “Anistia ampla, geral e irrestrita!” A revanche contra assassinos, estupradores, desaparecedores, torturadores, mercenários e seus mandantes estava liquidada. Suspendia as cassações políticas, proscritos os processos políticos e repatriados os que estavam no exílio. Resultado: anistia para todos, incluindo os genocidas. Garantida a transição, restava absorver a energia social que vinha disposta a mudar as coisas na marra.

A luta popular brasileira foi novamente traída. O ano de fundação do PT marcou o auge da organização popular. O próprio Lula declarou por diversas vezes, incluindo uma entrevista na Caros Amigos, que a importância da sigla e legenda eleitoral foi canalizar para a disputa democrática (e burguesa) a massa operária que enfrentava a patrões, militares, políticos corruptos e a polícia do Maluf. O novo partido surgia com um discurso e estatuto convidativos. Nele cabiam todas as correntes e agrupações. Seria uma grande coalizão de esquerda popular, anti-stalinista e defensora da democracia socialista. Teria um pé na luta e outro na institucionalidade. Deu no que deu.

O surpreendente no Brasil é vermos como opera o sistema de cooptação política. Qualquer militante com um mínimo de experiência sabe que a força social, a confiança no povo ao traçar seu caminho, a verdade que surge da luta e a coragem brotando do sangue e suor contra a repressão são as matérias primas de uma ESQUERDA COM INTENÇÕES REVOLUCIONÁRIAS. Sabemos disso todos, incluindo a pelegada e os traidores. Na maioria das vezes, aquele que hoje adere ao governo de forma “crítica”, compartilhou a esperança de criar um partido de massas com capacidade de transformação. Para nós, este é o primeiro dos erros. Nenhum partido eleitoral pode revolucionar. No final das contas, todo partido de massas começa reformista e termina ainda pior. Na ausência de teoria revolucionária, prevalecem as práticas políticas tomadas emprestadas da direita. Tem gente que chama isso de “tática”, outros de “equívoco”. Nós chamamos de política de direita com um discurso de esquerda.

Não é nenhuma novidade ver surgir uma força política legal e institucionalizada, hegemônica da luta popular. Quando a extrema-esquerda é hegemônica, é porque o povo está num grau de luta muito avançado. Não era o caso do Brasil de 1980. Mas que tinha espaço para uma ou mais organizações políticas com intenções revolucionárias, havia. Conforme já dissemos, o canto da sereia do general Golbery soou muito bem aos arrependidos da luta armada. Nada mais sedutor do que a política de forma pública e legalista, forçando por dentro da institucionalidade. A mentalidade de contestação pacífica, levou ao abandono das posições transformadoras. Infelizmente, foi junto pelo ralo à energia de luta direta e auto-organização de setores populares inteiros.

Através das urnas, uma nova fração de classe dirigente passa a ocupar uma parcela do poder burguês desde 1º de janeiro de 2003. Como é sabido, o Mensalão fez escola na década anterior, quando a nova elite aprendeu a corromper e ser corrompida em administrações municipais. A disciplina partidária, vontade política e capacitação técnica operam milagres. Na ausência de mística e orientação transformadora, um bom discurso já fundamenta o “assalto ao Estado”. No começo, o recurso ia para o partido. Após, o caixa bancava as campanhas eleitorais. Em um terceiro momento, a corrupção corrompe os corrompedores. Todos os bens de consumo do capitalismo estavam ao alcance da mão. Na União Soviética, a nomenklatura tinha privilégios. No Brasil, manda dinheiro para as Ilhas Cayman. Na base, na mente dos operários que foram armados para o 1º de maio de 1980, ficou o mau exemplo. Em menos de 15 anos, Golbery sorria no inferno.

Equivocados, corrompidos, arrependidos dos tiros que deram contra a ditadura, sindicalistas mais que cautelosos, igrejeiros que sequer falavam de Camillo Torres e outros tipos de militantes “responsáveis” transformaram sua trajetória política em uma vergonha para a classe oprimida. O pior dos exemplos é José Dirceu, mas não é o único. O ex-militante do Molipo hoje fatura mais de R$ 3 milhões por mês como lobista e operador de negociatas. Aplica os critérios conspirativos para agir dentro das entranhas do sistema. Zé Dirceu é parte de sua bílis. A via da urna e da burocracia levou a maioria dos “autênticos” a serem pouco mais que autênticos corruptos. Vicentinho, Luiz Marinho, Ricardo Berzoini, Lula, Paulo Okamotto, Paulo Bernardo, Jair Meneghelli, e outros nomes conhecidos em seus estados. A “esquerda” do PT não chega a ser social-democrata. A direita do PT é tão corrupta e neoliberal quanto os seus amigos da “base aliada”.

Este texto vai além das denúncias. Isto porque para nós, anarquistas organizados nos coletivos do FAO, sem organização revolucionária não há possibilidade revolucionaria! E, uma organização desta envergadura começa por uma sólida base ideológica e um profundo repúdio das práticas políticas da direita. Ou seja, tudo aquilo que tanto o PT como todo e qualquer partido de massas e eleitoral, não pode fazer. A prática política transforma hábitos e costumes em ideologia. Quando a militância é uma forma de mobilidade social, torna-se escola de traidores e corruptos. Não deu outra.

A outra direita, nacionalmente representada pelo PSDB e o Democratas (PFL), disputa a parcela de poder burguês com o governo Lula. Se parecem em muita coisa, menos na forma de cooptação. Durante os oito anos de FHC, os programas de auxílio social eram fragmentados, divididos entre ministérios. Assim, vários aliados dos tucanos podiam fazer proselitismo com àquela verba. Lula, um talentoso manipulador de massas, tomou uma decisão diferente. Repetiu em seu governo a medida tomada pelo governo social-democrata da Suécia, um dos primeiros do mundo, eleito em 1931. Para não alimentar a luta de classes e ainda assim garantir a permanência no poder, os pelegos suecos criaram uma forma de renda mínima atrelada ao coeficiente eleitoral. Deu certo para eles.

Não estamos dizendo que a renda mínima não seja importante para as famílias em condição de miséria. Longe disso. Afirmamos sim que é o tipo de medida que não cria política pública, mantêm as pessoas dependentes de um chefe político ou de um regime de turno. Cria uma mentalidade de adesão ao presidente que concede o “benefício”. Assim, um direito se torna um favor. E, como se sabe, o brasileiro não é “mau agradecido”. Com os movimentos populares, acontece a mesma coisa.

Todo militante social sabe a importância das conquistas, seu papel pedagógico, a escola que isso gera. A verdade que surge na luta é o inverso da política de convênios e projetos. Não há problema em arrancar dinheiro do Estado, tirando uma parte da fortuna que vai para os banqueiros todo dia. O problema é ter uma relação de “parceria e clientela” com o Estado através do regime de turno. Lula não caiu durante a crise política de 2005 em função destas duas políticas. O Bolsa Família por um lado e a relação de clientela com os movimentos de outro, mantiveram o ex-metalúrgico no poder. Sem o apoio popular, nem seus amigos banqueiros capitaneados pelo tucano Henrique Meirelles teriam segurado Lula no Planalto.

A outra direita, tão direita como a que está no governo, sabia disso e não arriscou. As lacraias tucanas diziam: “Nós pegamos o extrato bancário de Lula e dona Marisa Letícia e dá para provar que eles roubaram tanto como nós sempre roubamos. Mas quem está disposto a Marchar com Deus pela Democracia como em 1964? Ou o PFL sozinho acha que vai derrubar um governo eleito com voto popular e casado com o sistema financeiro?” Companheiros, acreditem, essas palavras são textuais, saíram da boca fedida de quem nos escraviza há 500 anos.

Para romper este tipo de vínculo nocivo, esta promiscuidade entre governo e movimento, entre povo e politiqueiros, é necessária outra forma de fazer política de base e luta popular. Nosso papel como anarquistas organizados no FAO, é fortalecer a concepção de luta de classes onde os oprimidos são protagonistas de seu próprio destino, onde a conquista material imediata marcha ombro a ombro com um horizonte de idéias libertário e transformador.

Hoje mais que nunca, precisamos derrotar a traição de classe e cooptação de base através da Luta & Organização, tanto da classe em luta como de suas minorias ativas organizadas especificamente. Para isso, é necessária a mesma disposição de luta do 1º de maio de 1980.


por Antônio Ferreira, militante do Fórum do Anarquismo Organizado

sexta-feira, 18 de abril de 2008

[CDA] 1º de Maio: dia de luto e de luta

CICLO DE DEBATES ANARQUISTA
Tema: 1º de Maio - dia de luto e de luta
Data: 29/04 às 17:30
Local: Bloco 13/Ufal