quinta-feira, 12 de julho de 2007

[Boletim 01] Contra as Reformas de Lula: protagonismo popular!

PARA DERROTAR OS ATAQUES DE LULA É PRECISO PROTAGONISMO POPULAR

Desde a vitória eleitoral de Lula/PT e seus aliados em 2002, bem como sua reeleição em 2006, a política neoliberal implementada no Brasil no começo da década de 90 vem tomando fôlego e continua atacando a maioria do povo brasileiro, de forma direta ou indireta. Setores oriundos da classe trabalhadora e movimentos sociais que sustentaram a luta contra as reformas neoliberais durante a década de 90 hoje são cooptados pelo Estado e, embriagados com o poder, utilizam-se de uma política traidora. E o pior: a maior parte dos movimentos sociais, apáticos, servem de base para as políticas neoliberais.

Entidades que tiveram grande importância na luta estudantil e sindical brasileira, como a UNE e a CUT, hoje se assemelham a departamentos do governo. Membros de partidos como PT e PC do B controlam essas entidades, aparelhando-as há anos, não dando possibilidade de participação a setores de oposição que poderiam recolocar essas organizações na luta. Impregnada por uma cultura onde as direções constroem a política e a base de estudantes e trabalhadores são alienadas de qualquer participação, seguem dando sustentação as políticas de reformas universitária, trabalhista, previdenciária e sindical. Estas favorecem o mercado e patrões contra as necessidades dos trabalhadores e são colocadas na ordem do dia pelo governo, que recebe forte pressão dos meios de comunicação e de grandes empresários para maior agilidade na sua implementação.

Essas reformas atacam direitos históricos conquistados por trabalhadores a duras penas, tal como o direito à greve, que é uma das poucas formas de luta que dispomos. Lula, que já foi sindicalista e líder de greves no ABC no final da década de 70, hoje faz declarações contra as greves de servidores públicos. As principais centrais sindicais, entre elas a CUT, não demonstram sinal de oposição clara às reformas e sustentam essa política participando de negociações fictícias, nas quais se pretende forjar uma participação popular nas decisões. Outras vezes se omitem, dando a falsa impressão que nada de grave ocorre, quando não acontece ainda pior: apóiam as ações governamentais com vários de seus ex-dirigentes na cúpula do governo elaborando esses ataques.

Nesse contexto cresce entre setores dos movimentos sociais a necessidade de organizar a luta para barrar essas reformas, e se não há mais possibilidade de construí-la através das entidades que foram cooptadas pelo governo, é urgente organizar os setores que permanecem fiéis às bandeiras em prol da classe trabalhadora e da transformação social. Desde o dia 25 de março, em um encontro realizado em São Paulo, milhares de sindicalistas (organizados especialmente na Conlutas e Intersindical), estudantes, sem-terras e membros de outros movimentos sociais constituíram o Fórum Contra as Reformas Neoliberais.

Esse Fórum pretende se colocar no embate direto ao governo, aos grandes empresários e à mídia oficial. De lá para cá, a aliança entre esses diversos setores têm desencadeado manifestações, mobilizações e lutas nos diversos cantos do país, demonstrando que há possibilidade de aliança no setor popular, estudantil e sindical para barrar essas reformas. O ponto máximo destas mobilizações foram as diversas manifestações realizadas no dia 23 de maio por todo país, que implicou em bloqueio de estradas, ocupações de reitorias e passeatas de importante expressão. Embora setores pró-Lula participassem desses atos em algumas regiões do país, estes se encontraram em situação complicada, porque ao mesmo tempo em que dão sustentação ao governo que implementa essas políticas, se vêem diante de certa pressão na base que cobra resposta a esse ataque. O Fórum Contras as Reformas Neoliberais vai se constituindo enquanto uma alternativa para a luta.

No entanto, há muito que construir, pois se houve avanço com a aliança desses setores dos movimentos sociais, ainda não é o suficiente. Temos demonstrado força e a cada dia outros setores se ligam à luta contra as reformas. Mas a maioria ativa nessa luta é formada por militantes de direções ou oposições de sindicatos, entidades estudantis, partidos e organizações políticas de esquerda. Não há maior massificação da luta. Para tal, é preciso mudar uma triste tradição dos movimentos sociais, principalmente o estudantil e sindical.

A forma como vem se organizando a luta privilegia o controle da direção de importantes entidades, e não vem acompanhada de uma prática que extrapole o discurso. Uma prática que faça um movimento realmente pela base, organizando e debatendo com trabalhadores e estudantes, quebrando a estrutura engessada e burocratizada que encontramos na maioria das entidades. A participação da população na luta, organizada no seu local de trabalho, estudo ou moradia, é fundamental para se construir uma verdadeira alternativa popular. Este caminho é duro e com certeza é o mais difícil, mas é o único que pode nos dar uma resposta à altura da que precisamos na luta contra as reformas neoliberais e pela transformação social.

O afastamento dos trabalhadores de lutas como estas certamente não se deve apenas pela estrutura catastrófica que se configurou nos sindicatos e entidades estudantis, mas por diversos outros fatores como a própria inserção da ideologia dominante de competição e individualismo. Mas a reestruturação dessas organizações é o que está ao nosso alcance, sendo um passo fundamental na construção da luta contra os patrões e o Estado.

A participação ativa dos trabalhadores e estudantes, o debate coletivo e a democracia direta têm que ser utilizadas em nossos fóruns, rompendo com uma tradição engessada e por vezes autoritária. Tal direcionamento permite não só envolver não as direções das entidades como principalmente os trabalhadores, estudantes, sem-terras, etc. A possibilidade de isso ocorrer se tornará mais real, na medida em que setores mais amplos da sociedade adiram à luta. Por isso, ao mesmo tempo em que colaboramos na convocação da população a fazer parte dessas mobilizações contra as reformas neoliberais do governo Lula, enfatizamos a necessidade de se ter uma nova estrutura no movimento sindical e estudantil e que garantam a construção do verdadeiro protagonismo popular.

Texto do Boletim CAZP, nº 1; julho de 2007

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