sábado, 12 de dezembro de 2009

[BOLETIM CAZP] dez-09 (textos)

BOLETIM CAZP – dez/09

PELO RESGATE DE UM SINDICALISMO MILITANTE
é na luta que se constrói Poder Popular

Situação atual

Ultimamente temos visto um movimento sindical bem menos participativo do que já foi um dia. As direções sindicais, em sua grande maioria, burocratizadas e institucionalizadas, vêem a participação da base se esvair. Logicamente que a culpa não é somente do movimento sindical, vivemos num mundo cada vez mais individualista, onde a competição se sobrepõe à solidariedade, mas os erros cometidos na trajetória recente do movimento dos trabalhadores têm que ser apontados na perspectiva de buscar sua superação.

No começo da década de 80, com o enfraquecimento da linha dura da ditadura, tivemos grandes mobilizações tanto no movimento sindical, como em diversos outros movimentos sociais. Houve o nascimento da CUT, baseada em alguns princípios que favoreciam um movimento forte e construído pela base. Com o passar dos anos, houve um engessamento desta Central, com o crescimento de posições conservadoras e menos questionadoras. A proximidade com a política parlamentar e a disputa de cargos no Estado por militantes sindicais, cujo partido hegemônico na central optou por essa linha política, implicou numa flexibilização cada vez maior no programa original. Decisões importantes eram cada vez mais articuladas pelas cúpulas em detrimento da base.

Hoje, alguns sindicatos e centrais têm estruturas enormes, com diversos recursos materiais, mas precisam pagar pessoas para carregar bandeiras em suas manifestações. Os trabalhadores escolhem seus representantes, mas não participam das decisões quotidianas de seu sindicato.

Existem tentativas de se organizar o movimento sindical hoje, algumas com muito discurso, mas tropeçando em erros cuja trajetória apontará para os mesmos problemas que já enfrentamos. Outras não fazem questão de mudar nada, mas apenas garantir sua fatia de influência política ou estão meramente interessadas no imposto sindical, que atrela o movimento ao Estado e compromete a sua capacidade de pressão.

Movimento de verdade se faz pela base

Se nos é colocada a possibilidade de recomeçar, uma coisa tem que prioritariamente estar clara: não devemos cometer os mesmos erros. Para nós, anarquistas, o sindicato é instrumento da classe trabalhadora. Esse instrumento serve para articular lutas imediatas, mas balizadas pela mudança necessária e radical do paradigma de sociedade em que vivemos.

Numa conjuntura propícia os movimentos sociais (incluindo os sindicatos) seriam espaços nos quais se organizaria o povo na transformação social de nossa sociedade. No momento atual, o sindicato tem que ser reflexo das lutas da classe trabalhadora, que devem emanar do local de trabalho. A ação direta, a solidariedade de classe e a autogestão formam lutadores. E mais importante que obter conquistas imediatas é o despertar da consciência de que foi através do esforço coletivo, sem intermédios, que determinada vitória fosse possível.

Essa construção não deverá ser nada fácil, mas temos a convicção que esse é o único caminho efetivo que levará a reorganização dos trabalhadores numa perspectiva libertadora. No começo podemos contar com poucas pessoas interessadas, já que a maioria muitas vezes está cansada de tanta ilusão e alienada ideologicamente por nossa sociedade de consumo. A luta é grande, mas é imprescindível que comece pelo local de trabalho. É nesse espaço que nos vemos como trabalhadores, que sentimos na pele nossos problemas e que devemos traçar estratégias para nossa luta. A política do sindicato tem que ser conseqüência do conjunto de mobilizações nesses espaços que funcionam impulsionados pela lógica da democracia direta.

Denominamos como sindicalismo revolucionário essa lógica de se organizar: participativa, radicalmente questionadora e impulsionada por uma necessidade de mudança geral da sociedade. O sindicato deve ser aberto ao conjunto da classe trabalhadora que o representa, independentemente de sua opção ideológica. No seu interior as disputas devem acontecer, desde que impulsionadas pela construção da luta e não pelo desejo de aparelhamento por parte de organizações políticas. Os sindicatos não podem ser reflexos da política de partidos.

O aparelhamento de sindicatos é um dos principais responsáveis pela crise vivida hoje, que pode ser combatida com a participação crescente da base. Não esperemos que a maioria esteja mobilizada para começarmos. A maioria se fará na medida em que nossa luta for efetiva, mas os espaços têm que ser abertos e agregadores.

Sindicalismo que constrói Poder Popular

A prática do sindicalismo revolucionário faz parte de um projeto maior. A construção do Poder Popular. O empoderamento do povo permite um questionamento do sistema e nos faz forte frente ao Capital. A organização pelos locais de trabalho, de moradia e de estudo nos permite fazer frente aos governos e patrões. Construir a saída dos problemas que nos afligem nos faz ver os limites do sistema e fará despertar a consciência de que nossas necessidades somente serão atingidas de forma plena em outro paradigma de sociedade.

Mas pra que de fato o sindicalismo possa contribuir na construção do Poder Popular é preciso também resgatar valores e práticas esquecidas. Fazer um sindicalismo que se volta a sua base, mas que também costura luta e solidariedade com outros movimentos, sem, inclusive, se achar dotado de maior importância. Um sindicalismo que também busca identificação na comunidade a qual se insere, indo até mesmo além de suas pautas trabalhistas.

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O sindicalismo revolucionário no início do século XX

No começo do século XX o Brasil, assim como outros cantos do mundo (principalmente Europa, EUA e América Latina), vivia momento de grande agitação e mobilização. Era a época que na maior parte desses lugares haviam uma influência importante, quando não majoritária, do sindicalismo revolucionário. Trabalhadores com extensas cargas horárias de trabalho (podia chegar até 15h diárias) conseguiam se mobilizar e participavam ativamente do dia a dia do sindicato, que muitas vezes era encarado como sua segunda casa. As lutas eram mais massivas e emanavam das decisões da base, tudo balizado por um projeto bastante claro de ruptura social. Por mais que as reivindicações fossem imediatas estava claro para os trabalhadores a necessidade de mudanças radicais que viesse superar o capitalismo.

No Brasil vivíamos a época da Confederação Operária Brasileira (COB), que organizou várias greves (entre elas a primeira greve geral, de 1917). Responsáveis pela conquista em vários locais de melhorias salariais, redução de jornada, combate ao trabalho infantil. Movimentos radicalizados em todo Brasil, que muito colaborou com a conquista de vários direitos trabalhistas que gozamos ainda hoje. Sem intermédio de políticos e sem a participação no parlamento.

Em Alagoas tivemos a Federação Operária Alagoana, filiada a COB. Teve importante participação nas lutas dos trabalhadores de nosso estado. Destaque para o ano de 1913, com intensas greves, organizada pelos trabalhadores da indústria têxtil, alfaiates, sapateiros, trapicheiros, estivadores, carroceiros e outros. Destaque para a greve nas industrias têxteis da companhia Progresso e Cachoeira, que teve intensa participação da Federação e conseguiu arrancar diversas concessões da patronal.

Personagem histórico: Antônio Canellas

Um importante militante do sindicalismo revolucionário brasileiro foi o anarquista Antônio Canellas. Carioca de nascença, mas que, vindo do Recife, militou ativamente no movimento dos trabalhadores em Alagoas. Autodidata, editou em terras alagoanas o jornal “A Semana Social”. Perseguido pela repressão, teve que fugir, voltando para o Rio de Janeiro, onde continuou sua militância no movimento operário.

Antônio Canellas também foi um dos que terminou formando o PCB, sendo o primeiro militante brasileiro a ir à Rússia pós revolução para participar da III Internacional Comunista. Lá cometeu o “crime” de discordar dos Bolcheviques, na ocasião representados na figura de Trotsky. Seu espírito libertário não havia sido apagado e ele não pode concordar com as orientações monopolíticas e teóricas a ser seguido pelos PC´s mundo a fora. Resultado: foi, orgulhosamente, o primeiro militante expulso do então PC brasileiro.

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TODA SOLIDARIEDADE À FAG

Na tarde do dia 29 de Outubro a Federação Anarquista Gaúcha (FAG) teve a sua sede, localizada no centro de Porto Alegre, batida pela polícia civil. Munidos de um mandato de busca e apreensão de materiais referentes às denúncias da responsabilidade pelo assassinato do sem-terra Eltom Brum e corrupção junto a venda do Rio Grande do Sul ao Banco Mundial que a FAG vinha deflagrando contra a atual governadora gaúcha, Yeda Crusius (PSDB), os policiais levaram não só CPUs, backups e cartazes associados ao motivo da queixa, bem como atas e outros documentos políticos da organização. Outro mandato foi ainda direcionado para a residência de um companheiro na cidade de Gravataí onde materiais semelhantes foram apreendidos.

O inquérito da Polícia Civil gaúcha terminou por indiciar oito militantes da FAG por crime contra a honra, incitação ao crime e formação de quadrilha ou bando. É notório que trata-se de repressão política tentando calar a voz de um importante setor da esquerda gaúcha que vem atuando na campanha “Fora Yeda!” deste estado com independência de classe.

O Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares mostrar-se solidário à Federação Anarquista Gaúcha (FAG). Demonstramos nosso repúdio à atual representação do governo do Rio Grande do Sul, em nome de Yeda Crusuis, a mandante da ação. Não nos mostraremos intimidados diante de qualquer crime covarde de perseguição e repressão vindo de poderosos corruptos aliados ao Banco Mundial! Banco Mundial que aqui em nossas terras também tem dado as diretrizes políticas para o governo de Téo Filho, também do PSDB. Os projetos do capital transcendem as fronteiras, assim como nossa luta e solidariedade.

SOMOS TODOS ELTOM BRUM!
FORA YEDA!
NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!

cazp@riseup.net

Um comentário:

rafael disse...

Dá-lhe compas, desde o sul, mandamos saudaçoes a luta em Alagoas!